Recordo como era prazeroso sentar na frente de casa à noite ao redor de ora minha tia, ora meu avô, minha mãe ou até mesmo meu pai para ouvir maravilhosas histórias que, dependendo de quem contava tinha suas características: contos, histórias de assombração, de trancoso (mentirosa). De tantas histórias que ouvi, como: Comadre Florzinha, Pé de Pimenta, A Gata Borralheira, Maria Tereza. Mas também não posso deixar de relatar as de assombração como: João Corajoso, Lobisomem, Velho do saco, Papafigo, a Cavala e, as de trancoso, acredito que essas foram criadas por meu pai, como o maior atirador (um homem que nunca erra o alvo, acertava até de olhos fechados), o caçador corajoso, na verdade era um homem que de nada tinha medo e que no meio de uma caçada lhe faltou munição e ele resolveu que para não perder a viagem usou como munição sementes de uma fruta chamada de araçá (fruta da família da goiabeira), e traumatizado por errar a caça volta para casa e não consegue mais caçar. Só anos depois curado do trauma esse caçador decide caçar na mesma floresta e o que surge é o animal que o caçador jurava ter errado o alvo, com o pé de araçá nas costas.
Meu pai de tanto contar suas histórias exageradas, ganhou o pseudônimo de Mentiroso e, consequentemente uma vez ou outra também sou chamada de mentirosa ou “filho de peixe sabe nadar”. Mas reservo prazerosamente uma história que é uma de minhas melhores lembranças que chama-se Cabecinha de Boi. Essa quem contava era minha tia (Claudice era seu nome).
Contava minha tia que uma vez uma rainha que casada há muito tempo, ainda não tinha filhos e mais tarde descobriu que não podia tê-los. Seu desejo de ser mãe era tanto, que um dia engravidou e dera a luz a uma cabeça de boi. A rainha o amava muito e, a cabeça de boi gostava de viver na lama se sujando toda e, dessa forma ela foi crescendo e se tornando uma cabeça de boi adulta. Como todo príncipe adulto desejou um dia casar. Prontamente a rainha mandou correr todo o reinado e vilarejos vizinhos a procura de uma moça para casar. Para tristeza de sua mãe a procura foi em vão. Quando a rainha já tinha perdido as esperanças, eis que surge um casebre muito humilde, onde existia uma pobre viúva e suas três filhas. Foi feito a pergunta que o mensageiro já havia feito inúmeras vezes.
- Uma de vocês deseja casar-se com uma cabeça de boi? E como já era de esperar a resposta foi à mesma.
- Não. Deus me livre!
- Além do, mas, ele adora viver na lama juntos dos porcos. Não quero passar o resto da minha vida dando banho em cabeça de boi, com tanto príncipe dando sopa por aí.
Eis que a filha mais nova com o coração cheio de compaixão da cabeça de boi aceitou casar-se com ela. E assim aconteceu e, sua vida virou uma sucessão de banhos em seu esposo e de nada adiantava, pois logo estava juntos com os porcos na lama.
Certo dia, o mensageiro foi avisar em todo o reinado e vilarejo que haveria uma grande festa no castelo que essa festa duraria três noites e todos da redondeza estavam convidados. Logo, a notícia se espalhou todas as moças ficaram eufóricas por esta festa. Mas, cabeça de boi não quis participar e deixou que sua esposa participasse. A mesma relutante não fez muita questão, mas acabou indo.
Eis que na metade da festa, surge um belo rapaz e olha para Maria e lhe joga um colar de pedras preciosas em suas pernas. Suas irmãs usando o pretexto de que era casada as jóias não foi para ela. Ela entregou o presente às irmãs e aceitou os argumentos das mesmas, chegando em casa contou ao seu marido, que consolou dizendo que ela fosse novamente para a festa ainda mais linda, e assim ela fez. Como da outra vez, o rapaz lhe jogou o vestido mais belo que se tinha visto antes e, mais uma vez suas irmãs ficaram alegando que jamais o vestido jamais poderia ser dela, pois alguém que se casa com uma cabeça de boi não é merecedor de tal presente. Como a moça não fez questão ficou mais uma vez sem o presente. E chegando em casa contou tudo a cabeça de boi e ela mais uma vez respondeu que ela deveria ter ficado com o vestido, mas não sendo assim que desta vez usasse na última noite de festa roupas simples que costuma usar no dia a dia. Mesmo sem entender, ela assim o fez não se preocupando com sua aparência.
Desta vez o belo rapaz não jogou o presente que era um belíssimo par de sapatos dos mais delicados que se pode ser contemplados, mas contou o que aconteceu das outras vezes com os outros presentes e desta vez iria entregar pessoalmente o presente para a dona. Assim o fez, entregando o presente a Maria, junto com os sapatos veio outro vestido e outros acessórios e foi embora. Maria sem entender muita coisa voltou para casa com todos os presentes.
Como em todas as noites, chegando em casa foi logo contar o que havia acontecida no baile. Para a sua surpresa o belo rapaz que lhe dera os presentes, era a cabeça de boi.
Referência:
Imagem disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. Acesso em 30 de abril de 2011.
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