Quando eu era criança uma das historias que meu tio sempre contava para mim e meus primos, era a da mula-sem-cabeça. Nossa eu chegava a tremer de medo. Meu Pai quando nos contava essa historia fazia gestos e caras que nos assustava, ele dizia que numa Sexta-Feira, o Tio Hélio sentado na varanda da casa do seu pai Carmo Claudio, o já falecido seu Bisavô, acabava de fumar um cigarro enquanto ia agradecendo o jantar e o café. “Pai tô indo, amanhã preciso acordá cedo, tenho que terminar a cerca do Manograsso. Boa noite.” “Boa noite meu filho.” O tio Hélio, desceu o degrau da varanda , atravessou o terreiro, pegando a trilha que levava à sua casa. Para chegar a sua casa haviam dois enormes pés de manga, por onde passava a trilha. Entre os pés de manga havia uma valeta, bem funda, a mesma era utilizada para escoar a água do sítio do seu bisavô , para o Rio Paraíba na época das chuvas. Por sobre esta valeta , passava uma ponte de madeira, grossa com mais ou menos vinte centímetro de espessura, de cor cinza, com algumas pequenas rachaduras. E lá ia o tio Hélio, caminhando na trilha, pensando nos catoeiros armado por entre as capituvas, na margem do rio em frente a Ilha do Vô Heitor. À noite, calada pelo brilho da lua cheia estava silenciosa. Já estava no meio da pequena ponte, quando ouve o canto assustador da coruja pousada no morão de cerca , súbito uma brisa leve balança as folhas da mangueira. Seus cabelos se arrepiam, os pelos também. O coração acelera, o peito pesa. Por de trás do tronco enorme da mangueira vem a fera, soltando lavareda de fogo por onde deveria ficar a cabeça. Altiva com a pele de coloração branca vai deixando pegadas de fogo por onde pisa.
Nessa hora que meu pai falava eu tremia, tremia...A mula sem cabeça aparece , muda o rumo e vem em direção ao Tio Hélio, que agora está paralisado no meio da pequena ponte, sem mesmo nem respirar. Mula sem Cabeça! Escapá desta é fácil, você tem que fechar a boca , é pra ela não vê os dentes e fechar a mão que é prá ela não vê as unhas. Fazendo isto! Ela vai embora sem fazer mal a ninguém.Dizia o meu pai que era assim que devia fazer. A boca do tio Hélio já estava fechada, fechando as suas mãos para esconder as unhas. Agora a mula sem cabeça deu uma parada mais ou menos à dois metros de distância dele. Deu uma fungada e lentamente foi embora, atravessou a cerca de arame farpado, pegando a estrada em direção á Fazenda Caiçara. No final da historia eu ficava morrendo de medo de encontrar uma mula sem-cabeça.
(Laíse Patrícia)
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